Confesso
que, em 1989, quando Sandman foi lançado a primeira vez no Brasil, pela
editora Globo, eu não notei a presença dele nas bancas. Um ano depois
eu entrei num estado de animação suspensa e não li mais HQs até 1997,
quando fui descongelado. Quando voltei a ler quadrinhos, Sandman já era
um sucesso inegável. Porém, eu ainda não estava lendo gibis como eu lia
antes. Precisou que eu entrasse no mundo das HQs digitalizadas, para que
voltasse a comprar quadrinhos como nos velhos tempos. Menos as mensais,
mas isso é outra história.
O fato é que eu fiquei sabendo de
Sandman e notava um certo endeusamento à HQ e ao seu autor, Neil Gaiman.
E, sempre fico desconfiado e exasperado com coisas que são eudeusadas
e, consequentemente, viram uma espécie de modinha, com todo mundo
babando por aquilo. Sandman era assim, na época que conheci. O fato de
que parecia haver mais mulheres do que homens que gostavam da HQ, me
fazia pensar que era algum tipo de HQ romântica. Então eu estava com
aquela velha atitude perigosa de "não li e não gostei". E assim fiquei
por muito tempo.
O que foi quebrando minhas defesas contra esse
modo de pensar foi conhecer outras obras de Neil Gaiman, como Orquídea
Negra, Livros da Magia e e todas as HQs derivadas de Sandman. Estas eram
mais fáceis de ler porque se resumiam a algumas poucas edições, muitas
vezes só uma edição especial. Sandman eram 75 edições. Elas até existiam
em scans, mas não conseguria parar para ler todas. Assim, eu já gostava
de Sandman, mas não lia, porque queria ler em papel.
Quando a
Conrad lançou os encadernados da série, eu achava-os caros demais.
Acabei não comprando nenhum. Tentei insistir e ler os scans, mas desisti
logo. Além de tudo, não tinham uma boa qualidade. Isso irritava, na
hora da leitura. Então veio a Pixel e lançou um encadernado com quatro
edições. Sua capa mole e poucas páginas fez com que fosse bem barato e,
assim pude começar a leitura das HQs do Mestre dos Sonhos. Porém, a
Pixel não passou do segundo volume. E a Vertigo foi para as mãos da
Panini.
Na nova editora, eles resolveram chutar o pau da barraca e
lanças as Edições Definitivas, que englobavam 20 edições ou mais por
encadernado. E com muitos, muitos extras. Isso fez com que o preço fosse
para a estratosfera. Novamente me vi sem condições de adquirir e ler
Sandman. E o primeiro volume esgotou antes que eu pudesse juntar as
moedas necessárias para comprá-lo.
O tempo passou, e o segundo
volume foi lançado, mas agora não adiantava mais. Sem o primeiro não
havia porque comprar o segundo. Até que a Panini resolveu reeditar o
primeiro volume. E, finalmente, eu consegui comprá-lo. Foi quando
realmente comecei a ler Sandman por mais de quatro edições. E não parei
até terminar todas as 75 edições que foram lançadas nos anos seguintes,
culminando com o quarto volume, neste ano.
Sandman é uma saga
monumental sobre um deus que é aprisionado aqui na Terra por décadas.
Morpheus é o mestre dos sonhos e seu aprisonamento traz consequências
terríveis. Assim que consegue se libertar Sandman parte para sua
vingança. Neil Gaiman reformulou o personagem criado na década de 30, o
super-herói Sandman, da máscara de gás, mas sem destruí-lo. É como se o
Sandman de Gaiman sempre tivesse existido, literalmente falando.
Este
encadernado traz as primeiras vinte edições, os outros virão, mas sem
previsão, pois o tempo que se leva é grande demais, impedindo outros
scans. Feliz Natal para todos vocês e para suas famílias!